Porque à primeira vista, o choque aparente entre tradição e inovação traz um impacto inesperado. Eu mesma, quando vi, critiquei. Mas eu estava baseada nas minhas próprias verdades, de que a LV é uma marca de luxo imutável. Olhei apenas para o passado. E pior: de forma conservadora.
Elevando o estilo Western a novas alturas, Pharrell fez uma verdadeira demonstração de como a moda pode transcender fronteiras culturais e históricas. E isso só foi possível porque a Louis Vuitton não se esquivou de escolher lideranças com formações não-convencionais. Antes de Pharrell, que é músico e produtor musical, veio Virgil Abloh, engenheiro civil e arquiteto. E essas escolhas – por pessoas “comuns” e fora do meio – permitiram que a moda furasse sua própria bolha, de certa forma a democratizando.
O mérito é dos líderes do negócio Louis Vuitton, alimentados por essa energia nova, e dos criadores, que não permitiram que seu passado e sua história definissem sua trajetória.
Minha visão é de que Pharrell é um experimentador e isso é um enorme mérito. Afinal, grande parte do que está acontecendo hoje envolve navegar pelo desconhecido, e isso inevitavelmente exige experimentação. Eu o vejo também como um construtor de ecossistemas: lembro que ele já admitiu que, embora tenha escrito sozinho a música “Happy”, foram os milhares de colaboradores que a tornaram deles, o que fez da música um grande sucesso.
Na LV, essa aposta mostra que um líder não está lá para apenas gerenciar a organização e operar de forma eficiente. Seu trabalho é definir uma visão, trazer impulso criativo e personalidade para sua organização, e usar da competitividade para ouvir, aprender e liderar. Essa energia molda o negócio e incentiva os talentos. Gosto de pensar que CEO é cada vez menos Chief Executive Officer e cada vez mais Chief Energy Officer.
E para esse profissional é muito mais valioso o desejo de experimentar novas coisas do que o olhar saudoso e a velha frase “no meu tempo”… É claro que que as experiências do passado têm seu valor e contribuem para quem somos hoje, mas a capacidade de experimentar coisas novas, de abraçar o desconhecido e de se abrir para novas perspectivas é o que nos permite evoluir.