É tudo culpa dos algoritmos?

Compartilhe esse conteúdo:

No intervalo de uma aula sobre o desenvolvimento da ciência de dados, falamos sobre a frequência com que os algoritmos “decidem” o que vamos ver. É como se tivéssemos transferido a responsabilidade das nossas decisões importantes para a Inteligência Artificial.

A IA tem, de fato, uma capacidade notável de analisar grandes volumes de dados e encontrar padrões. No entanto, precisamos lembrar que o controle final deve permanecer conosco. Ou vamos acabar nos acomodando.

Essa tendência de confiar cegamente na tecnologia pode refletir certa preguiça intelectual, que Kant já criticava em seu ensaio sobre o esclarecimento. O famoso “Sapere aude” (ouse saber) nos desafia a ter coragem de usar a nossa própria razão, sem a tutela de terceiros. Para Kant, a preguiça e a covardia impedem que as pessoas assumam a responsabilidade de pensar por si mesmas, algo que ressoa perfeitamente com o mundo digital de hoje.

Kant continua sendo fundamental para entendermos a importância do pensamento crítico, da autonomia intelectual e dos valores da modernidade. E, quando ignoramos isso, corremos o risco de normalizar a irresponsabilidade, confiando cegamente nas “decisões” dos algoritmos.

Fazendo paralelo com o carteiro Newman, da série “Seinfeld”: “quando você controla o correio, você controla… a informação!”, no mundo digital, os algoritmos são como o correio, influenciando o que vemos, lemos e até o que decidimos. Mas, se no mundo off-line já evitávamos conviver com pontos de vista divergentes, será que estamos agora nos escondendo atrás dos algoritmos para ficar em uma bolha?

A IA reflete as escolhas humanas: desde os dados que inserimos até os vieses que deixamos passar. Por isso, culpar a IA quando algo sai errado é ignorar a responsabilidade que continua sendo nossa. Não seria essa uma forma sutil de fugirmos do nosso papel ativo?

No final, a questão não é se a IA vai substituir a decisão humana, mas se estamos prontos para exercer o nosso poder de escolha e questionamento. Se não tomarmos cuidado, podemos estar diante de uma era em que não apenas os algoritmos “decidem”, mas também nos acomodamos na comodidade da irresponsabilidade.

Ana Paula Zamper

Ana Paula Zamper

Depois de mais de 30 anos de experiência no mercado de tecnologia, eu decidi abandonar o sobrenome corporativo e fundar a ByAZ. Junto com essa novidade, veio uma grande vontade de escrever e dividir meus pensamentos com você. Bem-vindo ao meu blog!

Post Recentes:

byAZ © Copyright 2024. Desenvolvido por: Desginauta. 

Scroll to Top