Na semana passada, fiquei pensando em como algumas pessoas inspiradoras que cruzam a nossa vida profissional acabam moldando, aos poucos, quem somos.
A reflexão veio depois de assistir à fala de Sandy Carter na Febraban Tech. Lembrei de quando ela foi minha chefe indireta na IBM. Até hoje, toda vez que posso vê-la ao vivo, reorganizo a agenda. Não só porque ela é uma das pessoas com mais conteúdo sobre Inteligência Artificial que eu conheço, mas porque ela fala com propriedade, experiência prática e muita intenção no que faz.
Recentemente, Sandy lançou o livro “AI First. Human Always”, defendendo um novo mindset para a tal “era da superinteligência”. Eu admiro sua postura de colocar a mão na massa, de realmente fazer e testar. Com os agentes de IA, tema de suas palestras recentes, foi a mesma coisa. Além de tudo, ela tem o dom de explicar de forma leve, didática e talvez o importante hoje, fazendo a conexão entre tecnologia, propósito e negócios com gente.
No palco, Sandy provocou: “a transformação digital não é mais uma escolha, é uma questão de sobrevivência estratégica”. Com o vigor habitual, desafiou executivos e empresas a abraçarem a mudança sem resistência. Eu não podia concordar mais. Num cenário dominado por tecnologias emergentes, é fácil se perder no hype e esquecer o essencial.
Muitos líderes ainda cometem o erro de tratar a IA como uma tendência passageira, sem conexão real com os objetivos da empresa. A consequência? Apenas 20% dos projetos de IA são bem-sucedidos no mundo hoje, segundo o contundente relatório da RAND Corporation, publicado em agosto de 2024. O motivo? Menos glamour do que se imagina: falta de clareza sobre o problema, dados inadequados, infraestrutura deficiente e obsessão pela tecnologia em detrimento do negócio. Sandy foi enfática: “Usar IA só por usar não funciona”.
Sua estratégia é simples, mas nada simplista: “Experimente. Meça. Ajuste. Repita.” Nos bastidores dos projetos bem-sucedidos que ela lidera, o que existe são práticas sólidas que envolvem a checagem rigorosa da qualidade dos dados, preparo consistente para a gestão de mudanças, e acima de tudo, construção de confiança por meio da transparência de como as respostas da IA são geradas.”Know how you get to the answer”, como ela repete incansavelmente. Transparência, para ela, não é luxo. É base de reputação. Especialmente em um mundo onde as respostas da IA estão cada vez mais impactando decisões sensíveis.
Porque no final, a grande revolução não é a tecnologia. É a coragem silenciosa de quem lidera mudanças profundas com propósito, consistência e visão estratégica.
Aplausos para ela. E mais ainda, reflexão para todos nós.