Começar uma nova etapa da vida profissional é um dos momentos mais animadores da vida. Seja porque a gente acabou de se formar, seja porque está em transição de carreira, o objetivo é, finalmente, começar a trabalhar naquela área. Mas aí vem o mercado e… balde de água fria!
No ambiente acadêmico, em que hoje estou inserida, tenho ouvido jovens comentarem sobre a dificuldade de encontrar um trabalho bacana por uma simples razão: eles não têm experiência. “Disseram que eu precisava ter experiência profissional. Mas como vou ter, se não me dão uma chance?”, eles falam.
Não é exagero. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), enquanto a média de desocupação da população em geral foi de 9,3% em 2022, ela chegou a 19,3% entre a faixa-etária de 18 a 24 anos.
Com o agravante da vulnerabilidade social (que traz responsabilidades domésticas precoces, baixa inclusão digital, maternidade precoce e insegurança física e alimentar, entre outros fatores), a história se repete ainda mais entre os jovens que atendemos no Instituto Ser +. Conversando com os voluntários de lá, falamos sobre o Programa In Company do instituto e temos casos reais bacanas para inspirar você que é líder hoje e não sabe como começar. Uma empresa que nos consultou, por exemplo, propôs uma visita do Ser+ em suas instalações e pediu que seus funcionários fizessem mentoria. Foram 30 jovens treinados e formados lá. Isso impressionou tanto essa galerinha que até hoje eles citam o nome da empresa como sendo o melhor lugar do mundo. Eles acabam se envolvendo tanto que se tornam uma espécie de embaixadores da marca.
Acontece que muitas empresas não enxergam isso. Algumas inclusive, emprega os jovens aprendizes para realizarem tarefas muito simples, onde eles não aprendem nada de novo e não são de fato inseridos na cultura da empresa. Precisamos apoiar a juventude e entender que todos precisam se encontrar, há muitos talentos a serem descobertos, independente da idade ou da classe social, e que independentemente do gap de formação de quem vem de escola pública, vale lembrar que são jovens com muita sede de aprender. E aprendem rápido.
Obviamente, o profissional tem que se preparar, tem que estudar (recomendo fortemente uma especialização, se a realidade permitir), tem que fazer estágios e tudo o mais, mas o mercado não pode exigir experiência profissional de alguém que acaba de se formar. E a geração que está chegando ao mercado agora encontrou um cenário ainda pior: muitos universitários tiveram limitações na hora de fazer um estágio durante o período da pandemia, ou seja, o distanciamento social não ajudou em nada o início de suas carreiras e a criação de um vínculo com o mercado de trabalho.
Eu estou aproveitando esse momento e essa conversa para fazer um mea culpa e exercitar o olhar de um lugar diferente. Como executiva de uma multinacional por anos, sempre me considerei uma líder inclusiva e empática, mas lembro que quando ia contratar novos talentos tinha um nível de exigência muito alto. Hoje, vejo que o desafio de um lado traz também prejuízos para as próprias empresas.
Muitas delas estão sofrendo com a falta de integração entre profissionais de diferentes idades no mesmo ambiente de trabalho. É o jovem que só pensa no digital, para quem tudo se resume a uma tela, e os mais experientes que ainda usam papel e caneta para anotar pontos de uma reunião (eu!). E isso é uma pena porque a troca entre profissionais de diferentes gerações pode ser muito rica: ambos têm muito a aprender um com o outro.
Os mais velhos trazem aos jovens as famosas soft skills – ou competências de comportamento – que eles precisam aprender e nenhuma escola ensina (menos ainda no período em que foi obrigatoriamente online), como manter a boa comunicação interpessoal e trabalhar de maneira colaborativa, sabendo pedir e aceitar ajuda.
Os recém-formados trazem um olhar fresco para a equipe e entre as vantagens de contratá-los estão: promover a inclusão, moldar um profissional sem “manias”, dar uma chance a alguém com vontade de aprender e cumprir seu papel de responsabilidade social. Além disso, dar uma oportunidade para as pessoas crescerem também contribui com o fortalecimento da imagem da empresa. Ela passa a ser relevante como marca empregadora que desenvolve pessoas para o mercado.
Meus recados finais aos jovens são: aprendam a pedir, acionem sua rede de contatos e avisem que vocês querem trabalhar, não desistam dos seus sonhos e controlem sua ansiedade. Por fim, quero deixar um toque aos líderes que estão em posição de contratar: a juventude é revolucionária e temos uma missão, que é a de desenvolver esse ativo maravilhoso!