Essa foi uma frase que ouvi na aula de ética com a Patricia Peck Pinheiro, PhD – e que faz todo sentido quando olhamos para o cenário atual. Mas parece que não é todo mundo que quer esse novo mundo, ao menos é o que sinto quando vejo a superficialidade com que o assunto ainda é tratado nos Conselhos de Administração.
São 3 fatores que contribuem para isso:
1. A criação de cadeiras de inovação e tecnologia em conselhos é recente – e nem todos estão convencidos da importância delas.
2. Tem pouca vaga para muita gente qualificada.
3. As entrevistas para ocupar esses cargos parecem seguir um roteiro engessado e, vira e mexe, esbarram em conhecimentos técnicos financeiros ou jurídicos.
Eu sei do que estou falando. Recentemente, participei de dois processos seletivos para um cargo de conselheira de inovação e tecnologia. Estava pronta para falar sobre o futuro, os modelos de negócios impactados pela IA e como estruturar a governança necessária para lidar com essa nova realidade tecnológica. Mas as entrevistas seguiram um roteiro antigo: DRE, EBITDA e estrutura de capital, entre outros assuntos do universo financeiro. Sei que são temas essenciais para um board, mas e cadê o board diverso? Cadê a pauta de inovação?
Na teoria, fala-se muito sobre buscar novas visões para os conselhos. Na prática, continuam selecionando os mesmos perfis financeiros e jurídicos de sempre. Será que inovação só entra no board se souber conciliar balanço e planilha?
Esse não é um problema só meu. Segundo o Deloitte Global Boardroom Program 2024, a IA ainda não faz parte da rotina da maioria dos conselhos:
– Apenas 14% dos entrevistados afirmam que seu conselho discute IA em todas as reuniões.
– 25% dizem que o tema aparece na agenda duas vezes por ano.
– 16% relatam que a IA é debatida anualmente.
– Quase metade (45%) dos respondentes afirmam que a IA ainda nem entrou na pauta do conselho.
Enquanto isso, a tecnologia avança, os modelos de negócios mudam, mas os critérios de seleção para conselheiros parecem congelados no tempo. Sem governança, empresas correm riscos sérios: desde o uso inadequado de dados até vieses discriminatórios em algoritmos, passando por impactos em reputação e regulação.
Um conselho que ignora IA está, na prática, deixando um ponto cego na estratégia da empresa.
Governança de IA significa garantir que as empresas estejam preparadas para mudanças regulatórias, para entender o impacto da IA na força de trabalho, na privacidade dos consumidores e, principalmente, como ela pode ser um diferencial competitivo.
No que diz respeito a esses processos de seleção de que tenho participado, eu confesso: não quero mais ser chamada apenas para cumprir protocolo. Não sou figurante. Quero um lugar à mesa porque esse tema merece estar na mesa.
E você, como vê a importância da governança de IA?