Há algumas semanas, uma amiga comentou que eu estava ausente dos grupos de Whatsapp. “Você anda muito quieta”, me disse. Foi só então que eu percebi que estava dando um tempo de tantos grupos. Estava off de maneira consciente. E quer saber? Eu participo de um alto número de grupos no Whatsapp. Em alguns deles, quando vejo o celular pela manhã, já rolaram mais de 100 novas conversas. Isso cansa. E tem nome: é o burnout digital, assunto tão em alta que virou capa da revista Você RH mais recente.
O estresse pelo excesso de conexão tem várias explicações:
– a gente pega o celular ao acordar e só larga na hora de dormir, ou seja, passa tempo demais conectado,
– estamos soterrados sob uma sobrecarga de informações: mesmo que a gente abra o celular para responder um simples e-mail dezenas de avisos das redes sociais e outros aplicativos começam a pipocar na tela,
– como comentei na semana passada, falta gentileza, generosidade e empatia no ambiente digital, tornando tudo mais hostil,
– e falta também bom senso e netiqueta, ou seja, boas maneiras a serem observadas no uso de ambientes virtuais.
Quer ver? Repare em um grupo de Whatsapp, por exemplo, como as pessoas perguntam coisas que já foram comentadas várias vezes ao invés de buscar na lupa. Ou como ocupam o tempo de todo mundo com questões que poderiam ser resolvidas numa simples busca no Google. E isso acaba drenando seu tempo de trabalho, de convívio presencial ou até… de sono. Isso sem contar a pressão constante que sofremos para estarmos sempre disponíveis e conectados.
Quando estive em Tel Aviv, aprendi que o Shabat (os sábados de repouso da comunidade judaica) potencialmente contribui para uma menor prevalência de burnout entre os israelenses em comparação com outros países. Isso porque durante o Shabat ocorre uma desconexão digital, além do descanso do trabalho, o que favorece o foco nas relações interpessoais, a reflexão e uma pausa para a espiritualidade.
Para a gente que está aqui, no Ocidente da alta produtividade a qualquer custo, também existem caminhos para evitar o burnout digital. Em primeiro lugar, precisamos estabelecer limites. Eu, por exemplo, frente a essa avalanche, decidi prestar atenção plena em tudo o que faço e melhorei minha higiene do sono evitando o uso do celular antes de dormir (após as 20:30h, já me desconecto!). E usar o whatsapp para mínimo som e máximo significado!
Também é fundamental contribuir com um ambiente online mais respeitoso, positivo e seguro para todos. Aí entra em ação o que eu chamo de inteligência digital, que engloba a capacidade de usar dispositivos eletrônicos, aplicativos e outras tecnologias de forma eficiente e responsável.
Afinal, qual é a medida certa em relação ao uso das redes sociais? O que é estar suficientemente conectado com o resto do mundo sem ser viciado em redes sociais? Uma boa estratégia a seguir é a técnica Pomodoro, um método de gerenciamento de tempo desenvolvido por Francesco Cirillo, no final dos anos 1980. A técnica consiste em dividir o trabalho em intervalos de tempo (geralmente de 25 minutos), seguidos por uma pausa curta (de 5 minutos). A cada quatro intervalos, uma pausa mais longa (de 15 a 30 minutos) é realizada. Essa abordagem ajuda a melhorar a produtividade, manter o foco e reduzir a fadiga mental. Pode parecer simples, mas você já tentou ficar longe de seu celular por mais de 10 minutos? Pois é.
Para concluir, eu proponho aqui o desafio Pomodoro, acreditando que ele é o caminho do meio para não ter um pico de estresse e, ao mesmo tempo, não abrir mão do meu smartphone e de participar do mundo digital. Eu quero fazer isso cada vez com mais bom senso e celebrar cada momento offline com a JOMO, expressão que aprendi no SXSW que significa “joy of missing out”, ou seja, a alegria (e escolha consciente) de não estar conectada o tempo todo. Afinal, sei que posso fazer tudo o que quiser no mundo, mas não tudo ao mesmo tempo.