Eu sou apaixonada pelas obras da artista Flávia Junqueira e me dei de presente um quadro dela, há 2 anos. Eu não sei o que me encanta mais: as cores, o movimento que a foto traz, a escolha da artista por retratar espaços emblemáticos ou sua forma contemporânea de repensar a estética e a técnica artística. Adoro ver o resultado de sua criatividade, sua sensibilidade e a atenção aos detalhes. Afinal de contas, é isso que emociona na arte, né?
Acontece que, em tempos de Inteligência Artificial, a questão da pessoalidade na arte anda mais complexa do que nunca. No começo desse mês, a Christie’s apresentou um leilão online dedicado inteiramente a obras criadas com inteligência artificial. Acabou sendo um teste para entender o comportamento dos consumidores e colecionadores, e o resultado foi ambíguo: por um lado, 14 dos 34 lotes não receberam nenhum lance. Por outro, a animação “Machine Hallucinations – ISS Dreams – A” de 16 minutos, obra do artista digital Refik Anadol alcançou um valor maior que o estimado: US$ 277.200 (cerca de R$ 1,6 milhão).
A polêmica não parou por aí. Um grupo de artistas lançou uma petição com quase 6.500 assinaturas pedindo a suspensão do leilão. O motivo? Muitas das obras teriam sido geradas com IA usando referências não autorizadas de obras protegidas por direitos autorais. Como sempre falo aqui: é fundamental regulamentar questões como essa, focando na ética, já que as referências usadas pelas ferramentas de IA nem sempre (ou seria quase nunca?) são transparentes.
Talvez, a obra de Refik Anadol tenha despertado o interesse dos apaixonados por arte justamente porque parece fugir à regra da apropriação indevida. Na descrição da obra, a Christie’s explica: “‘Machine Hallucinations – ISS Dreams’ transforma 1,2 milhão de imagens capturadas pela Estação Espacial Internacional, junto com imagens de satélite da Terra, em uma composição dinâmica gerada por IA. Usando redes adversárias generativas (GANs), a obra de arte explora o subconsciente da inteligência artificial, revelando um novo tipo de cartografia conduzida por máquina”.
Mas ainda quero trazer uma pimenta. Além de toda essa discussão, há ainda a questão do timing desse leilão: será que o público já entende bem o papel da IA na criação artística? Será que obras criadas por “máquinas” têm a capacidade de emocionar?
Os experts em arte devem saber responder melhor que eu, mas, de minha parte, continuo com os balões lúdicos da Flávia, muito bem posicionados no Parque Lage, inspirando meus dias todas as vezes que olho para a parede da sala.
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