Estou completando um ano longe da vida corporativa e, como esses marcos costumam trazer consigo balanços, tenho pensado muito em como a minha vida mudou.
Confesso que hoje minha agenda está tão cheia como era antigamente. Só que cheia de diversidade, de novos temas, de gente nova, de novos assuntos. Cada tema com seu horário e seu ritmo. E isso é incrível. Quando eu decidi sair do mundo corporativo, planejava dedicar tempo a projetos sociais (check, e 2 vezes!), fazer aula de cerâmica e gastronomia, ir à academia e ao pilates (check!).
O desafio tem sido me organizar e encontrar o MEU ritmo dentro dessas novas agendas. Hoje, além de ser Conselheira Consultiva do Instituto Ser Mais e da SAS Brasil, assumi um cargo no Conselho de Administração do IBEF-SP. Desde Junho de 2022, atuo como Diretora do Programa Executivo Leading Digital Reinvention, na Saint Paul Escola de Negócios. Fundei minha empresa, a byAZ, onde atuo como mentora, palestrante e consultora. E, com uma amiga, iniciamos um comércio de venda de roupas e acessórios importados do Oriente Médio e Ásia.
Sobra tempo? Sim, sobra. Mas em um dia sobra muito e, no outro, parece que preciso de 48 horas. Estou feliz? Sim, muito feliz. Conheci um mundo que antes eu não imaginava existir.
Quando tirei o meu crachá da IBM, eu me deparei com uma verdade simples, porém profunda. O mercado de trabalho, ao qual eu estava acostumada, estava dividido em dois universos distintos: um era o familiar ambiente corporativo, o outro era a excitante e, por vezes, assustadora arena do empreendedorismo.
No universo corporativo, percebi também que havia dois tipos de pessoas. Algumas constroem relacionamentos estratégicos, focadas em interesses presentes ou futuros, enquanto outras abordam a carreira e as relações de uma forma mais autêntica e ampla. Não que o primeiro grupo seja mal-intencionado, muito pelo contrário. Eles apenas têm uma visão de mundo um pouco mais estreita, focada em sua bolha corporativa e social. O problema é que, se essa bolha estourar por algum motivo, eles podem se sentir perdidos e sem direção.
Tudo isso foi uma verdadeira revelação para mim. Me fez perceber que a vida profissional não se resume a uma única trilha e que, seja qual for a nossa escolha, precisamos manter a mente aberta para novas experiências e possibilidades. Porque, afinal, nunca se sabe quando a nossa bolha pode estourar.
Por outro lado, o universo do empreendedorismo também tem suas divisões distintas. Existem aqueles que generosamente compartilham conhecimento e oferecem ajuda, aqueles que têm medo da competição ao ponto de se tornarem reclusos, e aqueles que percebem e capitalizam as vulnerabilidades alheias. E não preciso dizer que o segundo grupo, principalmente em longo prazo, corre o risco de se isolar. Afinal, quem consegue construir algo duradouro e gratificante sozinho e sem considerar o bem-estar dos outros?
Hoje eu diria que, em vez de ter o crachá de uma empresa, tenho o meu próprio crachá pessoal, que representa mais de 30 anos de uma carreira repleta de experiências diversas. Ser minha própria chefe é uma dança constante da minha vaidade com minha determinação, meu propósito e minha inteligência emocional, entre muitas outras coisas. É um desafio que envolve todo o meu ser e questiona continuamente meus limites e convicções.
Agora, meus valores são a minha estrutura organizacional. Eu foco naquilo que realmente importa. Descobri que, mesmo trabalhando muitas horas, fui feita para dias flexíveis, não para o horário das 9 às 6. Em vez de me perguntar para onde o dia se foi, estou adicionando mais deles à minha vida, pois me sinto mais leve, mais solta. O sucesso ainda importa, mas a relevância do que é feito precisa ser ainda maior.
Reavaliando minha relação com dinheiro, dei passos em direção ao minimalismo e passei a questionar cada compra. Descobri o valor nas coisas mais simples, sem deixar de lado o conforto. Reforcei minha reserva de emergência e passei a apoiar, mais ainda, iniciativas sociais. Construir um patrimônio e ter sucesso são coisas importantes, mas devem coexistir com felicidade, equilíbrio e relaxamento. A principal lição de tudo isto? Borrar as linhas entre o pessoal e o profissional pode tornar o seu dia de trabalho mais autêntico, mais divertido e mais motivador.