Ando com saudade de quando glamourizávamos o ócio criativo ou o bom dolce far niente. Agora o glamour está em torno da exaustão, da agenda sempre lotada, do cérebro sempre ligado. Que dificuldade andamos encontrando, enquanto sociedade, de simplesmente existir sem compromissos.
Até a geração Z, recém-chegada ao mercado de trabalho, descobriu isso. Tanto que a nova tendência do TikTok se chama “Task Masking”, ou seja, fingir produtividade no escritório mantendo o teclado frenético e até fazendo ligações falsas.
Leandro Karnal em sua coluna no Estadão desta semana fala sobre como “estou muito ocupado” virou quase um mantra. Como se preencher a agenda fosse prova de relevância. Como se desacelerar fosse sinônimo de fracasso. Como se estar sempre fazendo fosse mais importante do que simplesmente ser.
Ele ainda citou Byung-Chul Han, que em Sociedade do Cansaço já falava sobre como a exaustão é um subproduto da nossa necessidade de desempenho constante. Vivemos uma era de hiperconectividade, hiperexposição e hiperexigência. E, no meio disso, quantos de nós realmente nos permitimos a pausa sem culpa?
Pior: tendo a pensar que o problema não é só o excesso de trabalho, mas sim a forma como trabalhamos. Enquanto o Task Masking viraliza como uma forma de “sobrevivência” ao retorno presencial ao escritório, poucos falam sobre como a IA pode ser usada para tornar o trabalho mais eficiente e liberar tempo para viver.
A IA tem sido vista como vilã da sobrecarga digital, mas usar ferramentas inteligentes pode significar mais tempo para a vida off-line, e não apenas mais tempo na tela.
Automatizar tarefas repetitivas, otimizar processos e tornar nosso trabalho mais eficiente não é sobre estar mais ocupado, mas sim sobre liberar tempo para o que realmente importa. Investir tempo aprendendo a usar IA não é perder tempo. É ganhar tempo.
E, no fim das contas, a questão não é só quanto tempo trabalhamos, mas o que fazemos com o tempo que economizamos.
Blaise Pascal, filósofo e matemático já dizia: “Don’t try to add more years to your life. Better add more life to your years.”
Então, fica a provocação: se a tecnologia pode nos ajudar a viver mais e melhor, estamos realmente aproveitando essa oportunidade? Ou somente glamourizando os riscos e malefícios?