Recentemente, em um processo seletivo para um conselho de administração, passei por uma experiência que, sinceramente, me deixou perplexa.
As entrevistas anteriores dentro da mesma empresa tinham sido excelentes, boa vibe, troca produtiva. Mas quando chegou a conversa com o CEO — acompanhado da CHRO — o tom mudou completamente. Perguntas indiscretas sobre minha vida pessoal começaram a surgir.
“Você é gay ou hétero?”
“Por que não é casada?”
“Qual foi o relacionamento mais longo que você teve?”
E, para completar, comentários machistas que nada tinham a ver com a minha competência profissional.
Fiquei chocada. Não esperava esse tipo de comportamento de um executivo C-Level, ainda mais em um processo estruturado, conduzido por uma empresa superqualificada de headhunting.
Com classe (pelo menos eu acho que tive classe!), perguntei o porquê daquele questionário. A resposta? “Ah, é só para descontrair, para saber quem você é. Sou um pouco bronco e machista, sabe né?…”
Será que ele nunca tinha entrevistado uma mulher? Lembrei na hora da campanha que ilustra esse post, a “So many Dicks, so few of everyone else…”. Brincando com uma ofensa em inglês e o apelido de Richard (Dick), a E.L.F. BEAUTY tomou conta de Wall Street com uma campanha provocativa e direta. Enquanto a empresa já virou o jogo – com 78% do seu conselho formado por mulheres e 44% de diversidade racial –, a realidade da maioria das empresas segue longe disso.
No Brasil, o cenário não é animador. A pesquisa Board Members Latam 2023/2024 da PageGroup mostra que apenas 25% das cadeiras nos conselhos da América Latina são ocupadas por mulheres. Segundo o IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, esse número cai para 15,2% quando incluímos cargos de alta diretoria.
Mas há sinais de mudança. Iniciativas como o WOB- Women on Board
– criada em 2019 certifica empresas que realmente promovem diversidade nos conselhos. Já são mais de 100 empresas com o selo, mostrando que quem quer, faz.
Mas quem não quer não faz… a empresa da minha entrevista, por exemplo, claramente não quer. Um pouco depois, quando o headhunter me perguntou o que achei, fui direta: sabia que não seria aprovada, pois confrontei o entrevistador. Não consegui apenas ouvir e baixar a cabeça.
Dias depois, recebo a ligação do mesmo headhunter: “Ana, você foi a primeira escolha deles. Seguimos no processo?” A resposta foi um sonoro NÃO. Eu demiti a empresa antes mesmo que ela pudesse me contratar.
Entrar em uma nova empresa é sempre um desafio. Conhecer pessoas, entender processos e adequar-se à rotina de trabalho são atividades que demandam tempo. Porém, há algo que precisa ficar claro desde o início: qual é a cultura da empresa e o que ela espera dos seus colaboradores.
Se uma pessoa não está alinhada com os valores do negócio, essa relação não será boa para nenhum dos dois. Então, por que insistir nisso?
Você já viveu algo parecido? Fez como eu ou insistiu na empresa? Deu certo ou se arrependeu?
Quando a entrevista vira teste de paciência.

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Ana Paula Zamper
Depois de mais de 30 anos de experiência no mercado de tecnologia, eu decidi abandonar o sobrenome corporativo e fundar a ByAZ. Junto com essa novidade, veio uma grande vontade de escrever e dividir meus pensamentos com você. Bem-vindo ao meu blog!
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