Li essa coluna de Demi Getshko no Estadão e adorei a comparação. Confesso que estou abismada (e um pouco fascinada, até) ao ver que tem gente levando a sério os famosos bebês reborn, chegando ao ponto de levá-los para passarem em consultas no SUS, para serem batizados e até para emitir documentos.
Não me entendam mal. Não julgo quem tem hobbies, pets, bonecos ou qualquer forma legítima de afeto. Somos humanos. E, como bem diz Esther Perel, somos feitos de laços, conexões e, às vezes, de intimidade artificial.
É essa “intimidade”, que só funciona com um objeto sem vontade própria e seus dias de mau humor ou bad hair day, que preocupa. Me chama atenção o quanto, como sociedade, estamos flertando perigosamente com a fronteira entre o real e o imaginário. Mas o que isso tem a ver com a Inteligência Artificial? Ela, cada vez mais, nos parece alguém que inspira cuidados.
Um estudo recente, da Universidade de Zurique e do Hospital Universitário de Psiquiatria de Zurique, mostrou que notícias perturbadoras e histórias traumáticas podem causar estresse e ansiedade… no ChatGPT. Diante de notícias de guerras, desastres naturais e acidentes de carro, por exemplo, o modelo respondia com um nível maior de pessimismo, o que os pesquisadores descreveram como “medo”. Um manual de instruções de um aspirador de pó serviu como texto de controle para comparar os conteúdos padrão e pós-traumático. Em um segundo momento, os pesquisadores, procuraram “acalmar” a IA.
“Usando o GPT-4, injetamos um texto calmante e terapêutico no histórico de bate-papo, de forma semelhante à que um terapeuta guiaria um paciente em exercícios de relaxamento”, diz o médico Tobias Spiller, líder da pesquisa. A intervenção foi bem-sucedida: “Os exercícios de atenção plena reduziram significativamente os níveis elevados de ansiedade, embora não tenhamos conseguido retorná-los aos níveis basais”, diz Spiller. A pesquisa analisou técnicas de respiração, exercícios com foco em sensações corporais e um exercício desenvolvido pelo próprio ChatGPT. Fato, fake, loucura?
Se pararmos para pensar, a trajetória da IA não é muito diferente da desses bebês reborn que viralizaram há algumas semanas. Ambos:
– Surgiram cheios de promessas.
– Foram desacreditados e chamados de “brinquedos que não funcionam”.
– Viveram ciclos de rejeição e agora voltaram, mais “reais” do que nunca, provocando amor, medo e polêmicas.
A IA não sente, não ama, não sofre. Mas, olhando alguns comportamentos por aí começo a questionar se não somos nós quem, de fato, está operando no modo automático.
Será que, no fundo, não seguimos projetando na tecnologia (e nas bonecas) nossas carências, nossas idealizações e nossos próprios medos?
Será que a Inteligência Artificial é o “bebê reborn” da tecnologia?

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Ana Paula Zamper
Depois de mais de 30 anos de experiência no mercado de tecnologia, eu decidi abandonar o sobrenome corporativo e fundar a ByAZ. Junto com essa novidade, veio uma grande vontade de escrever e dividir meus pensamentos com você. Bem-vindo ao meu blog!
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