Quando você pergunta “tudo bem?” você quer mesmo saber se está tudo bem? Quantas vezes você responde a essa pergunta no piloto automático, dizendo “tudo bem”?
Comecei a pensar no assunto quando, no último fim de semana, perguntei a uma amiga como ela estava e ela respondeu com muita ênfase: “Estou ótima!”
Fiquei surpresa. Não porque queria que ela estivesse mal, é claro – até porque estávamos numa festa, e ela estava linda! Fiquei impactada com a segurança com que ela disse isso, com tanta certeza. Ela percebeu minha reação e devolveu: “Me sinto ótima. E você?”.
Saí dali pensando no quanto, cada vez mais, não estamos prontos para ouvir uma resposta fora do protocolo. A escritora francesa Simone Weil dizia que a atenção é uma forma de generosidade. Ela defendia que ouvir verdadeiramente o outro – com presença, sem antecipar respostas, sem querer encaixá-lo em nossas expectativas – é um bem em si.
Eu sinto, inclusive, que estamos cansando das redes “sociais” porque elas estão se tornando uma série de monólogos paralelos. Muitos querem falar e poucos querem ouvir.
Ao mesmo tempo, as máquinas estão aprendendo a nos ouvir melhor do que nós mesmos. A Inteligência Artificial já processa emoções na voz, analisa sentimentos em textos e “entende” padrões de comportamento. Mas e nós? Ainda sabemos escutar o outro além da superfície? Ou estamos terceirizando até mesmo essa capacidade?
E aqui entra um paradoxo: em um mundo regido pela IA e pelos algoritmos, escutar se torna ainda mais valioso porque:
1. empatia não pode ser automatizada.
2. o que nos conecta não são só palavras, mas a intenção de compreendê-las.
3. no fim, ouvir o outro com intenção e presença é um dos atos mais humanos e transformadores que podemos oferecer.
Enquanto a tecnologia avança para interpretar nossas emoções e prever nossas intenções, cabe a nós preservar o que nos torna verdadeiramente humanos: a escuta genuína, a atenção plena e a conexão real.
Afinal, máquinas podem processar dados, mas só nós podemos oferecer presença.
Tudo bem mesmo?

Compartilhe esse conteúdo:

Ana Paula Zamper
Depois de mais de 30 anos de experiência no mercado de tecnologia, eu decidi abandonar o sobrenome corporativo e fundar a ByAZ. Junto com essa novidade, veio uma grande vontade de escrever e dividir meus pensamentos com você. Bem-vindo ao meu blog!
Post Recentes:
byAZ © Copyright 2024. Desenvolvido por: Desginauta.