Vizinha: – Você mora sozinha?
Eu: – Sim.
Vizinha: – É separada?
Eu: – Não.
Vizinha: – Por que você mora aqui?
Eu: – Ué! Não preciso de marido para me bancar…
…
Vizinho: – Pode deixar que eu trato desse assunto com seu marido.
Eu: – Pode tratar comigo mesmo.
Vizinho: – Não prefere que eu fale com ele, pois o assunto é sobre manutenção?
Eu: – Sou eu quem cuida do meu apartamento…
…..
Sabe quando em meio a situações banais a gente se dá conta de coisas bem profundas? Pois é. Nessas conversas rápidas, que tive ao longo da última semana, percebi que uma mulher independente e bem-sucedida incomoda muita gente. Ainda. É claro que as perguntas não foram por maldade, mas o fato é que uma minoria incentiva uma mulher independente e resolvida financeiramente, tampouco entende que ela pode se manter sem o apoio de um homem.
Percebi que a questão tem ainda tudo a ver com o tema da redação do Enem, tão falado na última semana: a invisibilidade do trabalho da mulher, principalmente no que se refere aos cuidados com a família (pais, irmãos, sobrinhos, marido, filhos…). Na nossa sociedade, ainda os homens são educados para serem independentes. E as mulheres? Para serem responsáveis pelo âmbito doméstico e pelas pessoas. Ou, como bem resumiu o presidente do TST, Lelio Bentes Corrêa, “ao repetirmos padrões culturais impregnados de preconceito, de misoginia e de desvalorização do trabalho e da figura do outro, somos levados a invisibilizar”.
Por outro lado, mulheres independentes e bem-sucedidas carregam um estigma – digo isso por minha própria vivência. Quando saio, viajo e resolvo problemas sozinha, ainda vejo muitas caras de contrariedade. Homens jantando sozinhos, ok, mas… uma mulher? Coitada, está sozinha!
Aí, a gente procura uma espécie de anestesia emocional para suportar a enxurrada de opiniões sobre as nossas decisões. Acabei me tornando indiferente aos olhares curiosos, às sobrancelhas erguidas, aos clichês recitados e aos incontáveis (embora bem-intencionados) conselhos.
Dia após dia, fortaleço minha vontade diante do preço exorbitante que é exigido para simplesmente possuir o controle sobre minha própria vida. Não sou melhor ou pior que ninguém. Sou apenas uma mulher autônoma, senhora de minhas escolhas, consciente de minhas vontades e meus objetivos. Uma mulher completa, enfim.