“Uma mulher que nunca foi discriminada é uma mulher distraída”. Esses dias ouvi essa frase, dita pela Bia Azeredo e fiquei muito pensativa.
Ser mulher nunca me intimidou. Não me sentia preterida no começo da carreira, mas hoje acho que minha antena está mais afiada. Sinto mais o preconceito agora, na questão da idade e também na área em que estou : sendo mulher no universo de conselheiros eu percebo muito, sobretudo por não vir do mercado financeiro nem jurídico.
Na multinacional de tecnologia em que trabalhei, muitas vezes eu era a única mulher em várias situações. Lembro de um chefe que certa vez me disse: “pra mim, você parece um homem”. Por um lado, entendo que ele queria mostrar que não fazia distinção (e não fazia mesmo), mas por outro, hoje acho essa fala pouco inclusiva. Ele deveria ver todos como iguais, e não todos como homens.
Talvez por isso, eu me sentava no fundo da sala de reuniões e só usava roupas de tons sóbrios. Não queria me mostrar como diferente, mostrar minha feminilidade. Na época não tinha essa maturidade.
Esses dias, inclusive, indo para um evento do WOB- Women on Board , um amigo me perguntou se não seria melhor eu ser mais assídua em eventos com homens também. Eu mesma sou conflitada com esse tema. Sim, acho ótimo interagir com a maior diversidade possível de gêneros e conhecimentos – mas tenho que confessar que, ainda, ser mulher em alguns momentos é solitário… Então, reservo meu tempo nesses eventos para trocar ideias, aprender e me conectar com outras mulheres, o que dá um up na minha energia.
Hoje, tenho feito várias entrevistas para conselhos, mas vejo que a roda que ainda indica e seleciona conselheiros é majoritariamente feita de homens. E tem muita mulher MUITO BEM preparada. Quer saber? Percebo que apenas quando uma mulher entra é que começa a indicar as outras…
Em um estudo apresentado pela revista Forbes, o Brasil está entre os países com menor representação feminina nos conselhos de empresas na América Latina. Apenas 25,3% das cadeiras dos boards no país são ocupadas por mulheres. E digo mais: não basta ter mulheres nos conselhos. Elas precisam ter a oportunidade de exercer liderança para que exista equidade. Enquanto forem poucas, seguirão isoladas.
Sem contar que, mesmo entre as mulheres, existe o comentário de que algumas estão em cargos altos apenas para “cumprir uma cota”. E isso depõe contra porque a gente já batalhou tanto para ocupar esses lugares, né? Tem tanta mulher talentosa que merece as oportunidades! Me lembra o meme “tem tanta gente incrível se achando ruim por causa de muita gente ruim que está se achando incrível”.
Para completar, o próprio termo “feminista” parece não ser bem compreendido e carregar um ranço histórico. Tem gente que tem receio de usar. Mas, segundo o próprio dicionário Houaiss, feminismo é a teoria que sustenta a igualdade política, social e econômica de ambos os sexos. Nesse contexto, será possível a gente não ser feminista?
Você já foi discriminada ou é uma mulher distraída?
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Ana Paula Zamper
Depois de mais de 30 anos de experiência no mercado de tecnologia, eu decidi abandonar o sobrenome corporativo e fundar a ByAZ. Junto com essa novidade, veio uma grande vontade de escrever e dividir meus pensamentos com você. Bem-vindo ao meu blog!
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